segunda-feira, 30 de abril de 2012

O medo funciona como o freio e como alarme do nosso sistema mental, com o fim de nos proteger dos perigos, identificar problemas e nos precaver de riscos. O medo opera de modo praticamente automático e influencia muito a maneira como percebemos e pensamos o mundo ao nosso redor a toda hora. Por isso, tem grande influência na tomada de decisões e no modo como as pessoas nos vêem. O medo tem um forte componente inato, mas também as experiências negativas, particularmente se forem freqüentes e/ou fortes e nos primeiros anos de vida, tendem a ser incorporadas no jeito de ser. Algumas pessoas têm baixo medo inato, mas o ambiente hostil ou a exposição aos perigos faz com que desenvolvam um grande medo aprendido. Nessas situações, pode haver uma grande ambivalência ou imprevisibilidade em como o medo é vivenciado. O medo relacionado a pessoas (timidez x extroversão) é um pouco diferente do medo geral, mas costumam ter níveis semelhantes, ou pelo menos, não muito distantes. O medo pode ser baixo, médio ou alto. Cada grau tem vantagens e desvantagens, mas as pessoas com o temperamento mais equilibrado e menos sujeito a ter problemas e transtornos mentais têm o medo médio.


A avaliação apontou que o seu nível de medo é baixo.

Esse perfil traz as características de ousadia, arrojo, gosto pelo risco, impaciência, despreocupação, pouca precaução e tomadas de decisões mais rápidas e impulsivas. Do ponto de vista social, se o medo também for baixo, há uma tendência para desinibição, espontaneidade e extroversão, em preocupação com o que os outros estão pensando a seu respeito. A vantagem do perfil de baixo medo se manifesta particularmente quando o meio não está gerando grandes perigos e problemas, ou seja, quando o ambiente é seguro. Nessas circunstâncias, a energia que poderia ser despendida no sentido de se precaver pode ser usada para conquistar e expandir, trazendo conquistas e benefícios. Quem tem baixo medo menos comumente perde oportunidades que poderiam render vantagens. Por outro lado, o medo é a proteção contra os riscos que a vida oferece. Nesse sentido, com seu perfil mais ousado e impulsivo, você tende a se expor demais quando há perigos reais e imprevisibilidade. A falta de precauções e percepção de risco pode deixar a retaguarda desprotegida dos eventos negativos quando eles de fato ocorrem. Nessas situações, o que foi conquistado em fases mais seguras pode ser perdido, às vezes rapidamente, por não se ter investido energia e recursos em medidas de proteção. Do ponto de vista de transtornos psiquiátricos, o medo baixo favorece o desenvolvimento de transtornos de impulsividade (transtorno de explosividade intermitente, transtorno de oposição desafiante) e do uso de drogas de abuso, por não medir bem as consequências de experimentá-las ou de usá-las em demasia. A deficiência de medo também pode favorecer as elevações excessivas de humor (euforia ou mania bipolar), a hiperatividade, o envolvimento em situações problemáticas (acidentes, enganos) ou atos antisociais. O baixo medo também diminui a chance de se aprender com as experiências negativas, já que parte do aprendizado significa incorporar algum grau de receio frente a essas situações. Pessoas com baixo medo tendem a voltar mais rápido ao seu estado natural depois de situações traumáticas, o que é uma desvantagem em situações mais cotidianas, mas é uma vantagem em situações extremas que tenderiam a gerar um transtorno de estresse pós-traumático em pessoas com mais medo. O baixo medo protege do desenvolvimento de transtornos de ansiedade (ansiedade generalizada, alguns tipos de TOC e de fobias, fobia social, personalidade dependente e evitativa). O trabalho de aperfeiçoamento do temperamento com baixo medo passa por aprimorar a capacidade de identificação das situações de risco e problemas reais ou potenciais, ou seja, se deve pisar mais no freio e ficar mais alerta. Muitas situações de boas oportunidades carregam riscos inerentes, que devem ser bem ponderados para aproveitá-las da melhor maneira. Se as precauções forem proveitosas, há chance de gerar novas precauções, mas se não foram usadas ou necessárias, o baixo medo volta a imperar e novamente se expor a riscos, talvez em excesso. A lapidação desse temperamento exige muito o uso da razão, já que naturalmente a pessoa tende a pensar pouco antes de tomar decisões. Por isso, é importante perceber que, na falta dos mecanismos emocionais de proteção, quem deve agir para se adaptar melhor às circunstâncias é o pensamento aliado ao tempo para considerar os riscos de cada situação. Para quem tem baixo medo, na dúvida, em geral é melhor se proteger.



Assim como o medo é o freio, a vontade é o acelerador. A vontade nos move para fazer o que tem algum significado afetivo para nós. Quando a vontade é muita, podemos chamá-la de desejo. Não podemos fazer tudo que queremos e, por isso, os desejos têm que ser controlados. Quando os desejos não são realizados, ou acontece algo que não queremos, ficamos frustrados e tristes (queda da vontade), ou com raiva (transformação da vontade), ou tudo isso junto (o controle e a raiva serão avaliados a seguir). É importante entender que a vontade e a raiva são essencialmente a mesma energia de ativação do sistema mental, mas em vibrações diferentes. A vontade é a ativação canalizada e livre para agir, enquanto a raiva é mais caótica e enfrenta algum bloqueio ou barreira. A vontade também pode ser dividida em baixa, média e alta. A vontade está relacionada principalmente com as vantagens, qualidades e benefícios e relativamente pouco associada ao nível de problemas que a pessoa tem com o seu jeito de ser. As pessoas que se percebem com mais benefícios com seu jeito de ser tendem a ter a vontade alta, mas como para as outras emoções, não há perfil que só tenha vantagens e não tenha problemas.


Esse perfil traz as características fortes de otimismo, entusiasmo e prazer nas atividades, interesse por novidades, tendência a não desanimar e a desistir mesmo frente a objetivos mais difíceis, além de decisão e objetividade e uma sensação de autoconfiança. A vantagem da vontade alta é a motivação, a proatividade, a competitividade e a auto-estima tão valorizadas na sociedade atual. Assim a vontade alta permite investir em novas situações, buscar ativamente oportunidades e aproveitar o que tem. A vontade alta é mais favorável em ambientes de grande competitividade, situações novas e com grandes obstáculos, mas que podem trazer grandes ganhos. As boas oportunidades raramente são desperdiçadas por quem tem muita vontade, particularmente em combinação com baixo medo. A vontade é a base da esperança, mas não deixa o sujeito ficar parado só esperando as graças chegarem. Quem tem alta vontade precisa contar menos com a ajuda e apoio de outros para atingir seus objetivos, ou seja, é mais independente e auto-suficiente. Esse perfil também costuma se associar a uma mente ágil e à “faísca rápida”. Pode perceber uma série de situações antes dos outros e tirar proveito disso. Em um grupo social, a vontade alta costuma dar visibilidade e, muitas vezes, capacidade de liderança. Apesar das suas grandes vantagens, a vontade alta também tem seu lado negativo. A esperança e o otimismo nas situações que se apresentam muito desfavoráveis ou insolúveis costumam levar a grandes desgastes e perdas. Nas situações sem saída quem desiste antes tem vantagens. Desistir de algo que não tem como dar certo é bom, mas em geral não há como saber isso de antemão. No entanto, situações realmente difíceis costumam ser superadas por quem tem a vontade alta, e o retorno pode ser alto. A vontade alta pode inspirar forte competitividade nos outros, particularmente em quem também a tem. Assim, pode haver atritos quando se está em grupo, mas as relações sociais também dependem muito de outros fatores. O desejo em excesso deixa a pessoa mais vulnerável à ambição demasiada e à arrogância, particularmente se for associado com alta raiva. Além da ganância, outro “efeito colateral” do excesso de desejo são as reações quando ele não é saciado. Pode ser de grande frustração e, o que é pior, ataques de raiva se a ativação mental não for bem controlada. Se por um lado a vontade alta pode gerar grandes ganhos, as perdas também podem ser devastadoras, principalmente se associadas ao baixo medo. Outro problema da vontade alta é a dificuldade de se adequar a rotinas e a sensação de que algo parece sempre estar faltando. Do ponto de vista de transtornos psiquiátricos, a vontade alta traz um risco aumentado de se desenvolver sintomas eufóricos ou maníacos, ou de irritabilidade particularmente quando o ambiente é hostil ou estressante. Para muitas pessoas a vontade é alta, mas instável (geralmente nesses casos a raiva é média ou alta e/ou o controle é baixo). Isso gera instabilidade de humor, já que a vontade é o alicerce do humor, e essa oscilação afeta pode afetar a auto-estima, a confiança e o crédito pessoal. A vontade alta pode aumentar o desenvolvimento de transtornos relacionados a excessos comportamentais em compras, jogo e drogas de abuso, mas principalmente se o medo e o controle forem baixos (ver a seguir). Alguns podem usar drogas para saciar a necessidade de estímulos ou tolerar frustrações, sendo um caminho comum para a drogadição. Em outras palavras, a ativação mental em excesso pode deixar o indivíduo “escravo dos desejos”. Como o prazer proporcionado pelos desejos saciados tende a durar pouco e a ser intenso, logo surge a urgência de saciá-lo outra vez. Nesse caso, a vontade fica oscilante e com repertório restrito. A vontade alta também pode aumentar a chance de se formar uma personalidade mais narcisista, chamativa ou sedutora. A ativação mental excessiva também pode gerar insônia. A lapidação desse temperamento passa por aumentar a capacidade de controle dos desejos, particularmente se eles forem impositivos e compulsivos. É importante criar momentos para desligar a mente do ambiente cheio de estímulos. Com a experiência pode se aprender em que situações não vale a pena perseverar atrás dos objetivos e mudar a estratégia e o foco a tempo. Do ponto de vista social, é vantajoso manter a autoconfiança sem chegar à arrogância, mas isso exige reflexão e auto-controle, que muitas vezes só vem com a idade e em função de experiências negativas.

O controle é a capacidade de realizar as tarefas relacionadas ao dever. O controle entra em ação para agirmos quando não temos vontade e para limitar as ações impulsionadas pelo desejo. A capacidade de controlar a ativação mental faz com que ela seja expressa mais na forma de vontade do que de raiva, e ajuda a tolerar as frustrações. Dessa forma, o controle exerce uma grande função de regulação emocional. O controle confere a capacidade de se organizar e se concentrar nas tarefas, mesmo nas situações mais tediosas. O controle também está associado à harmonia social e a cooperatividade, que requerem funções mentais elevadas, como perceber o que é melhor para o grupo e como os outros estão se sentindo nas diversas situações. O senso de dever tende a favorecer o outro ou o grupo em detrimento de si, e assim aumenta a cooperatividade entre os indivíduos. Por essas razões, em geral o controle está associado a vantagens e a falta de controle tende a gerar problemas.


Esse perfil conta com uma dose moderada de concentração, foco, atenção, disciplina, organização, responsabilidade e conclusão de tarefas. No entanto, não costuma dar conta de tarefas mais longas e entediantes, a não ser com grande esforço ou com ajuda. O controle médio é relativamente neutro quanto a vantagens e problemas. Por não ser alto, pode haver alguma vantagem em agir de modo menos padronizado ou “certinho”, com certo desprendimento e independência de algumas regras sociais, mas isso também depende das outras emoções. Quando as tarefas relacionadas ao dever, como prazos e horários, são necessárias ou valorizadas no contexto, o controle médio costuma dar conta do recado. Em algumas situações, o controle médio pode favorecer um tipo de pensamento mais original ou inusitado, que pode ser desenvolvido e colocado em prática particularmente se for em uma área que em se gosta de atuar ou se tiver um nível de vontade alto. O controle médio pode gerar desvantagens e problemas se houver muitos deveres a serem cumpridos ou tarefas mais desgastantes. Isso pode se manifestar de modo leve já nos primeiros anos de escola, e apesar de haver uma melhora no começo da idade adulta, ainda pode atrapalhar o crescimento pessoal e profissional em ambientes mais rígidos e exigentes. O controle médio pode não ser suficiente para controlar a instabilidade daqueles que tiverem mais raiva. Pode fazer falta também no direcionamento sobre o que deve ser feito, como e quando. Algumas tarefas podem ser deixadas para a última hora, e algumas vezes o tempo que resta não é suficiente para fazer a tarefa bem feita. Em situações sociais mais complexas ou em situações pontuais, a não percepção de sutilezas dos outros faz com que alguns atos sejam considerados “sem noção”. Pelo menos esse tipo de erro de não se dar conta do que fez ou do que deveria ter feito são mais facilmente perdoados, a não ser que se repitam, provocando perdas no crédito pessoal perante os outros. Do ponto de vista de transtornos psiquiátricos, o controle médio pode gerar alguns sintomas de déficit de atenção e hiperatividade, particularmente se associado com baixo medo e baixa vontade. Pode também ocorrer em quadros de instabilidade de humor (bipolaridade) e pode não dar conta de segurar emoções mais intensas relacionadas ao desejo e à raiva. A adaptação ao controle médio muitas vezes passa por usar estratégias que compensem a falta de controle natural. Uma das saídas é buscar fazer o que gosta, ou seja, não ter que depender tanto do senso de dever para produzir. Atividades mais dinâmicas, que estimulem mais a vontade, podem atrair mais a atenção e o cumprimento de tarefas e objetivos. Quanto à organização, uma boa estratégia é poder se associar com alguém que naturalmente seja mais disciplinado e ajude a monitorar o que tem que ser feito. Outra possibilidade é fazer um esforço para criar o hábito de usar agendas e lembretes que ajudem a cumprir os compromissos. De modo geral, é melhor buscar atividades com alguma flexibilidade em relação a regras, horários e prazos.

A raiva é o produto dos desejos e vontades não realizados. A vontade (ou desejo) e a raiva são expressões diferentes da uma mesma força de ativação mental. A raiva surge quando algo acontece contra a nossa vontade. Algumas vezes ela emerge em função de algo que não queríamos que acontecesse, como por exemplo, quando nos roubam ou furam a fila na nossa frente. Outras vezes, é quando queremos muito que algo aconteça e há um bloqueio, como quando o nosso time erra um pênalti ou quando queremos chegar a algum lugar e o trânsito nos impede. A ativação mental, quando se manifesta sem bloqueios e é canalizada a um objetivo, é a própria vontade. Quando é barrada ou está caótica, é raiva. A raiva também pode ser canalizada exatamente contra a barreira que se opõem à vontade com o objetivo de destruí-la ou dominá-la. Mas nem sempre isso pode ser feito. A raiva é, entre as emoções básicas, a maior geradora de problemas. Ela corrói por dentro e por fora. No longo prazo, faz o raivoso desgastar seus pontos de apoio e seus vínculos, deixando-o só e sem suporte. E como a arrogância e desconfiança fazem parte da raiva, a culpa costuma ser dos outros. O lado bom da raiva é a força para conquistar posições mais altas hierarquicamente e para se defender de agressores. Uma das principais funções da raiva é justamente tentar remover o que bloqueia a realização da vontade e dos objetivos. Infelizmente, muitas vezes a raiva gera outra reação oposta também forte, já que ninguém gosta de lidar com a raiva alheia. Como é uma emoção quente e desmedida, facilmente sai do controle e pode atingir níveis muito perigosos, principalmente com medo e controle baixos. Assim como para as outras emoções básicas, algumas pessoas têm uma tendência maior a sentir raiva, ou seja, ela determina características do temperamento. As pessoas mais equilibradas e estáveis têm como marca a baixa raiva. A arte em relação à raiva está em expressá-la nos contextos adequados, com intensidade proporcional ao fato e de modo que facilite a busca de soluções dos embates.



A avaliação apontou que o seu nível de raiva é médio.

Esse perfil traz algumas características de irritabilidade, explosividade, impaciência, agressividade, assim como propensão a ser desconfiado, rancoroso e vingativo. Do ponto de vista social, a pessoa com raiva média pode ser percebida como intolerante e dominadora em alguns contextos. A vantagem do perfil de raiva média é poder contar com a sua força em situações em que se é desafiado ou agredido, o que protege o próprio território. Em outras circunstâncias, um pouco de raiva favorece a conquista de novos territórios. Mas essa capacidade de defesa e ataque muitas vezes produz outras perdas e também coloca o indivíduo em situações de risco e desadaptação social. Por estar associada com algum grau de desconfiança, há uma facilidade em identificar precocemente quem pode lhe prejudicar, mas algumas vezes pode considerar como inimigo ou tratar mal alguém que não lhe quer mal. Em outras palavras, a desconfiança protege, mas também pode isolar o indivíduo. As desvantagens da raiva média ocorrem quando ele é mal aplicada, seja pela intensidade desproporcional, seja pela freqüência em que se manifesta. No longo prazo, os efeitos da raiva média podem ser deletérios para as relações afetivas e sociais. A reação de raiva deixa as pessoas em torno inicialmente assustadas, e com a repetição, traumatizadas. Assim, a tendência é o afastamento dessas pessoas ou a perda da naturalidade nas relações. Quando se trata da relação com um outro raivoso, a conseqüência é o surgimento de discussões, desacertos e brigas. Como a intensidade tende a ser alta, e ambos tendem a ser orgulhosos e rancorosos, às vezes basta uma forte desavença para rachar a relação de modo irreparável. A raiva também está associada à forte combatividade, e é a base da inveja. As pessoas de raiva média também tendem a ver o mundo em um formato tudo-ou-nada ou 8 ou 80 em algumas situações, principalmente emocionais. Esse padrão de pensamento também pode se manifestar ao rotular pessoas ou situações de maneira dramática e instantânea. Como muitas coisas são contínuas e graduais, a pessoa pode ficar meio fora de sintonia com o ambiente e com a visão dos demais. Do ponto de vista de transtornos psiquiátricos, a raiva média confere um risco maior de transtorno de humor bipolar, transtorno de explosividade intermitente, bulimia, os transtornos de personalidade borderline, , narcisista, histriônico, antisocial e paranóide, excessos comportamentais (compras, jogo, direção agressiva) e abuso de drogas. No entanto, muitas vezes em torno dos 40 ou 50 anos a raiva pode surgir ou aumentar e aí sim algum transtorno pode surgir, como depressão agitada, que pode ser considerada como parte de um quadro de bipolaridade do humor. A lapidação da raiva média passa por transformar a energia de ativação da raiva, que destrói mais do que constrói, em vontade, que constrói mais do que destrói. O caminho para se conseguir isso é canalizar a energia a um objetivo produtivo e aumentar a capacidade de controle. As perguntas a serem feitas são “o que está bloqueando a realização dos meus desejos ou a conquista dos meus objetivos” ou “o que está acontecendo contra a minha vontade”? Uma vez identificadas as barreiras, o ideal é elaborar um bom plano de ação, com alternativas e flexibilidade para resolver as questões. A canalização da energia pode se dar tanto em mudanças no tipo de atividade que exerce ou em fazer algum hobby, que pode ser um esporte, atividade física aeróbica ou uma atividade artística. Assim, a energia represada vai fluindo de maneira produtiva, reduzindo a pressão interna. No plano mental, a maneira de atenuar a raiva é monitorar os pensamentos extremados, do tipo tudo ou nada, e buscar a ponderação em cada situação. A inclusão de uma opção “mais ou menos” ou “neutro” na hora de avaliar os eventos já enriquece e aperfeiçoa muito o padrão mental de quem tem propensão à raiva. Outro aspecto importante a ser desenvolvido é a capacidade de remendar os estragos feitos pela raiva. Isso se consegue com o aumento da comunicação com as pessoas, particularmente em uma posição de “guarda baixa”, que favorece o pedido genuíno de desculpas. Muitas vezes quem age com raiva se arrepende do que fez, mas o orgulho não deixa reparar os danos. Portanto, reduzir o orgulho, pedir desculpas e valorizar o outro é um caminho que diminui o impacto negativo da raiva. Quem tem a raiva média frequentemente consegue ter ou desenvolver essa capacidade.



A sensibilidade se refere a quanto alguém se abala frente a situações difíceis da vida, ou seja, o impacto que as adversidades causam na pessoa. Os fatores que levam a esse desgaste podem ser de várias naturezas, como estresse no trabalho, situações de pressão, frustrações, eventos traumáticos, mas também incluem as relações pessoais, como críticas e rejeição por partes de outros. A tendência a se culpar e a dependência de aprovação dos outros também são manifestações de sensibilidade alta. No contexto usado aqui, a sensibilidade está relacionada à vulnerabilidade, e não no sentido de ter uma percepção aguçada, ou uma sensibilidade artística. Portanto, a sensibilidade alta nesse teste indica dificuldades e problemas em lidar com eventos desagradáveis e adversos.

Uma vez abalado por algum estressor, a capacidade de recuperação tem a ver com outras dimensões emocionais, principalmente com a vontade alta, mas o medo baixo, a raiva baixa e o controle alto também favorecem a recuperação.


Sensibilidade média

As pessoas com sensibilidade média não são particularmente resistentes às “pancadas” da vida e tendem a se abalar quando há algum atrito pessoal mais relevante. Com alguma frequência o limite pessoal de suportar tensões interpessoais e situações difíceis é ultrapassado, gerando danos e sofrimento. Mesmo eventos cotidianos ou de ordem menor podem afetar e, se forem continuados, provocam uma baixa na resistência.

Já há uma clara dificuldade em se lidar com estressores mais fortes e situações de pressão mais alta. Para tolerar esses momentos pode ser necessário apoio externo e alguma pausa para recuperação. Portanto, há um preço relativamente alto a pagar quando se colocam em situações complexas, difíceis e imprevisíveis. Mesmo que suportem bem e cheguem aos objetivos, o desgaste e os prejuízos pessoais subjetivos costumam ser altos.

A sensibilidade média tende a gerar alguma interferência nas relações pessoais, tanto próximas (família, amigos) como mais distantes (colegas), por poder se sentir afetado ou magoado mesmo com pequenos atritos ou tensões. Em outras palavras, a mágoa pode acumular. Quando combinada com raiva média ou alta, os problemas tendem a ser maiores por haver uma tendência a reatividade emocional e dramática, com tendência a reclamações e cobranças em excesso.

Uma das maneiras de lidar com a sensibilidade é esperar menos dos outros e dos resultados. A expectativa alta é o território fértil para a frustração e a decepção. A sensibilidade também está ligada a precisar de aprovação dos outros para se sentir bem. Dessa maneira, a pessoa fica mais vulnerável e dependente, ao invés de puxar para si a responsabilidade de atribuir o seu próprio valor. É melhor se ver como se é, aceitando suas qualidades e buscando lapidar os defeitos, do que esperar e contar que alguém reforce a idéia de que se é perfeito. Em outras palavras, a auto-aceitação e o contato mais profundo consigo mesmo são necessários para se diminuir a sensibilidade, principalmente nas relações pessoais.




Temperamento Hipertímico

O temperamento hipertímico tem como base a vontade alta associada ao medo e a raiva em nível baixo ou pelo menos médio, e o controle alto ou médio. Se a vontade for média, a natureza hipertímica deve ter sido escolhida em função do medo baixo.

A mente funciona de forma semelhante a um carro, com acelerador e freio independentes, que precisam ser controlados. A vontade é como se fosse o acelerador e o medo é o freio. A velocidade final do carro seria o padrão de humor ou temperamento afetivo. Assim, no temperamento hipertímico, há uma combinação de acelerador forte e pouco freio, ou seja, tem muita força para avançar, mas pode faltar capacidade de frear o comportamento quando se faz necessário. Portanto a velocidade final e o humor de quem tem esse temperamento ficam em um nível mais alto do que o dos outros temperamentos. Por outro lado, se o controle for bom, essa velocidade alta costuma ser bem gerenciada, porque o controle dá estabilidade ao humor e visão para a boa tomada de decisões. Em outras palavras, a falta de freio pode ser compensada por saber se direcionar muito bem. Naqueles com controle médio e medo baixo já há mais chance de se prejudicar por excesso de ousadia ou impulso.

O temperamento hipertímico apresenta as características de alta energia, entusiasmo, sensação de prazer, curiosidade, confiança, iniciativa, força de vontade, capacidade de atingir objetivos, com uma visão do mundo essencialmente otimista. São pessoas que tendem a lidar bem com situações desafiadoras, gerenciando seus desejos e medos para resolverem problemas e atingirem seus objetivos. Esse é o temperamento mais proativo, comunicativo e rápido mentalmente. Por outro lado, em situações específicas pode ficar em desvantagem em comparação a outros temperamentos. Por exemplo, em situações que exijam cautela e cuidado, como em crises iminentes, o temperamento hipertímico pode falhar em perceber as dificuldades e riscos da situação, perdendo mais por ter investido com ambição demais. No entanto, se o controle alto for suficiente para detectar os problemas, podem ser extremamente rápidos em fazer os ajustes devidos.

As pessoas com esse perfil geralmente consideram que seu temperamento está associado a alguns problemas, mas a maioria percebe vantagens e benefícios claros no seu jeito de ser. De fato, o perfil energético e dinâmico, associado à responsabilidade, planejamento e foco faz com que sejam particularmente produtivos. Assim, os hipertímicos podem se adaptar bem a muitos tipos de trabalho, tanto executivos como de liderança, planejamento e criatividade. Como líderes, tendem a ser carismáticos, firmes, obstinados e estimuladores, usando o exemplo pessoal como referência.

No plano intelectual, o hipertímico se destaca pela capacidade de lidar com situações desafiadoras que exijam capacidade de lidar com a complexidade. Se o controle for alto, percebe os aspectos positivos e oportunidades ao mesmo tempo que toma as precauções necessárias. Se o controle for médio e o medo for baixo, podem deixar a retaguarda descoberta. Os hipertímicos costumam errar por excesso. Apesar de alguns aprenderem a lição, outros repetem a dose muitas vezes até abrir mão da sua maneira de perceber as situações e de se comportar. Quando perdem muito, têm grande capacidade de recuperação.

Nas relações, o temperamento hipertímico tem facilidade de estabelecer vínculos afetivos rapidamente, e muitas vezes consistentes e duradouros. Alguns têm dificuldades por não quererem abrir mão da sua autonomia e independência. Esse é um perfil de pessoas essencialmente cooperativas, empáticas e solidárias, apesar de haver também as versões mais frias e individualistas.

Os traços disfuncionais desse temperamento que podem gerar desadaptação ao ambiente ou círculo social são os excessos. Geralmente a psicoterapia é suficiente para recompor a situação, porque costumam ser pessoas com muitos recursos psicológicos. Por outro lado, muitos têm dificuldade de se submeter à psicoterapia devido ao seu senso de autonomia e independência. Psicofármacos podem ser úteis por períodos curtos quando houver estresse prolongado ou acúmulo de problemas, ou como lapidador dos excessos comportamentais. À medida que as situações vão sendo resolvidas, os hipertímicos conseguem voltar rapidamente ao seu funcionamento normal e, se aprenderam as lições, depois se mantêm bem.


Nenhum comentário:

Postar um comentário